Insensatez e acidentes

[Imagem: Stock.Xchng]
O uso simultâneo de novas tecnologias pode tirar o foco dos trabalhadores

A prevenção de acidentes vem sofrendo uma derrota nos últimos tempos que parece ser irreversível: o uso insensato dos equipamentos de comunicação. Não se pode afirmar quando a insensatez começou, mas provavelmente foi a partir da disponibilização de três tecnologias que apareceram simultaneamente no mundo: o telefone celular, o mp3 player e os minicomputadores nos painéis de veículos, sem fala nos smartphones. Você pode não ter se dado conta, mas esses aparelhos podem aumentar o risco de acidentes, tirar o foco do trabalhador, além de exigir que ele lide com a simultaneidade.

Estar focado é um dos princípios mais importantes na prevenção de acidentes do trabalho, especialmente em tarefas críticas, como a operação de equipamentos móveis, por exemplo. Com o mp3 player, o trabalhador pode perde a atenção. Sua audição, sentido fundamental para mantê-lo em estado de alerta e evitar perigos, é prejudicada pelo uso dos fones de ouvido. O usuário ouve música em vez de prestar atenção ao meio que o cerca e à atividade executada. Passa a ser vítima fácil de atropelamentos e ladrões de carteira na rua e, no trabalho, perde a capacidade de perceber situações perigosas.

O telefone celular possibilita o contato entre o gestor e seus subordinados, onde quer que estejam, mas muitos passaram a fazer chamadas telefônicas de qualquer lugar, sem considerar os perigos. Falar do risco de se atender ao celular durante a condução de um veículo é desnecessário, mas a contradição está no fato de que muitas empresas exigem o uso de celular para dar orientações aos mesmos trabalhadores a quem dizem que é proibido utilizar. Nas ruas, a pessoa falando ao celular também perde o foco: olha para o chão para discar o número desejado e tropeça, coloca o celular preso ao pescoço podendo causar um desvio postural.

Mas não foram o celular e o mp3 player que introduziram essa marcha da insensatez. Antes disso, caminhões de mineradoras já vinham equipados com computadores de bordo que tiram a atenção do motorista para o principal: a estrada e o controle do veículo. Quantas e quantas vezes presenciamos, nas mineradoras, “quase acidentes” e acidentes de fato em que o motorista é chamado pelo rádio, com a expectativa de resposta rápida, além de ter que entrar com uma série de dados no computador de bordo, enquanto conduz o veículo? Nos automóveis, o diferencial deixou de ser a qualidade do banco, a maciez da suspensão, o engate preciso de marchas, o desempenho ou a economia de combustível. Agora é o minitelevisor que vem bem no meio do painel que provoca desvios de atenção e perda de foco. Como se não bastasse, depois vieram os smartphones e passamos a ver motoristas dirigindo ao mesmo tempo em que enviam e lêem mensagens. A perda de foco chegou ao seu ponto máximo.

Qual é o nosso papel como prevencionistas? Definir limites e cobrar o seu cumprimento. Fundamentalmente, não é porque uma tecnologia é possível que ela deva ser adotada. Somos um povo tradicionalmente permissivo e pagamos um preço alto por isso. O profissional do SESMT tem agora um grande desafio: o e reforçar às pessoas a necessidade de focar no que estão fazendo e de “criar caso” contra as novidades tecnológicas disponibilizadas, muitas vezes já incorporadas à rotina de trabalho. Tenho dúvidas de que iremos nos sair bem nessa empreitada, mas é preciso insistir. Caso contrário teremos que dizer, frustrados, abatidos e resignados: OK insensatez, você venceu!
Escrito por Hudson de Araújo Couto
Fonte: Revista Proteção - Julho/2012

0 Comments:

Post a Comment




 

Layout por GeckoandFly | Download por Bola Oito e Anderssauro.